27/06/23
QUIPEAProtagonismo e sustentabilidade nos arranjos produtivos de mulheres quilombolas
O protagonismo das mulheres quilombolas sempre foi notável e promissor. E quando se fala em protagonismo quilombola nos arranjos produtivos comunitários, as mulheres do Quipea surpreendem. Coletividade, união e troca intergeracional são algumas marcas das atividades de produção semi-artesanal nas regiões dos Lagos, Norte Fluminense e São Francisco de Itabapoana com Espírito Santo.
Máquina de fabricação de bananas chips
Nas comunidades de Aleluia, Batatal e Cambucá (ABC), em Campos dos Goytacazes – RJ, as mulheres que integram a Associação Quilombola das três comunidades tiveram a ideia de processar a banana chips através do edital da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de Campos dos Goytacazes. Josefa Maia Gomes, Eliane Ribeiro, Dalmecí Xavier Honorato, Tatiana Almeida da Costa, Jaqueline Barbosa da Silva, Eliane Ribeiro e Renata Maia Gomes são as produtoras rurais que fazem parte deste coletivo, que tem parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campos dos Goytacazes. “Vamos poder vender as bananas chips na feira da roça, que acontece às terças e sextas, mas a prioridade será a merenda escolar do próprio quilombo.” – nos contou Dalmecí Honorato, da comunidade de Cambucá. Com o edital foi possível a aquisição de uma máquina para sua produção, que está na sede da Associação.
Para as bananas chips será utilizada a banana caturra (d’água/nanica), porém a comunidade está ampliando a área comunitária para começarem a plantar a banana prata e a banana figo. Os desafios para o início da comercialização estão relacionados à necessidade de um selo de produção, da compra de embalagens e do transporte para a entrega dos produtos. A associação está envolvida no apoio de todas as etapas. “A máquina será de grande utilidade para iniciarmos esse processo de desenvolvimento sustentável nos quilombos de Aleluia, Batatal e Cambucá. A partir dessa iniciativa vamos fazer com que o dinheiro gire na própria comunidade, dando estímulo à agricultura familiar, incentivando os jovens retornem para o campo” – relatou Paulo Honorato, presidente da Associação Quilombola de Aleluia, Batatal e Cambucá. No futuro, o coletivo pretende também beneficiar as bananas para a produção de mariola (ou bananada) e banana-passa.
Dalmecí Honorato, Eliane Ribeiro e Josefa Gomes, produtoras rurais quilombolas de Aleluia, Batatal e Cambucá
Na Região dos Lagos as mulheres do quilombo de Maria Joaquina (Cabo Frio – RJ) reuniram necessidade e oportunidade. Em 2020, as artesãs da comunidade tinham criado um coletivo para ampliar a venda de seus produtos em feiras regionais, como bolsas, pochetes e nécessaires. Com a paralisação de suas atividades, por conta da pandemia de Covid-19, nasceu a ideia de uma ação comunitária de produção de máscaras de proteção para doar às comunidades mais vulneráveis do entorno. A partir do diálogo entre a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – Conaq (representada pela líder Rejane Maria, também educadora socioambiental do Quipea) e o Projeto Ação Integrada, do Ministério Público Federal em parceria com a Cáritas – RJ, foi doado o material necessário para a produção das máscaras e para ajudar na renda familiar das costureiras, que tinham ficado desempregadas, com o excedente.
Atelier Quilombola de Maria Joaquina
Pochetes feitas em tecido pelas costureiras de Maria Joaquina
Também em 2020 o Fundo ELAS abriu edital, e as artesãs conseguiram participar de um curso de formação em corte e costura e montar um ateliê de moda, com a participação de 47 mulheres. “Foi a melhor coisa que fizemos” – relata Rejane.
Atualmente o Atelier Quilombola funciona no espaço comunitário do quilombo e lá são produzidas, bolsas, pochetes, roupas e moda praia. Após o primeiro edital, a comunidade ganhou mais dois editais: o Itaú Social e Rede Mobiliza, e o apoio do Ação Integrada se manteve, possibilitando alavancar sua produção.
Futuramente as costureiras e artesãs de Maria Joaquina pretendem fazer vendas on-line e conseguir dinamizar a inclusão de novas alunas na formação em corte e costura, além de montar uma cooperativa para a produção de suas bolsas e roupas.
Costureiras de Maria Joaquina
Gessiane Oliveira exibe bolsa produzida pelo Atelier Quilombola
Mais um edital deu panos pra manga, ou melhor, ajudou um coletivo de mulheres a botar a mão na massa e escolher uma atividade artesanal, neste caso, a fabricação de biscoitos artesanais de Deserto Feliz, em São Francisco de Itabapoana – RJ. A ideia surgiu quando abriu o Edital Rede Mobiliza, em 2022, parceria entre o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS) e a Shell. As mulheres da comunidade juntaram-se e votaram na melhor maneira para conseguirem, de forma coletiva, obter uma fonte de renda sustentável. Daí surgiu a fábrica do “Biscoito raiz do Quilombo de Deserto Feliz.” Após a conquista do edital, o sonho se tornou realidade: a fábrica foi montada em uma casa comunitária que foi cedida temporariamente por um morador, e inaugurada em fevereiro de 2023. Porém, para o futuro, o coletivo espera a concretização de algum apoio para a sede definitiva.
São oito receitas de biscoitos, entre as quais a mais famosa é a do biscoito casadinho. Walquiria Neves, uma das integrantes do coletivo quilombola, nos conta que as receitas foram transmitidas das mais velhas às mais novas, e esperam repassar a tradição adiante. Essas receitas foram escolhidas a partir do curso feito em 2022 com o grupo Padaria Pão na Pedra, e incluem os sabores fubá com coco, fubá com erva doce, leite condensado, leite condensado com coco, flocos, casadinho, polvilho e pão.
Quer aprender a fazer uma das deliciosas receitas? Veja abaixo a do famoso casadinho:
Biscoito Casadinho
Ingredientes:
250g de farinha de trigo
100g de açúcar refinado
150g de manteiga sem sal
Essência de baunilha a gosto
1.Coloque na batedeira a margarina, o açúcar e a essência e bata até homogeneizar.
2.Adicione a farinha aos poucos até homogeneizar.
3.Faça um rolinho de massa, corte em pedaços pequenos e enrole.
4.Leve os biscoitos ao forno pré-aquecido a 180ºC, por prox. 10 minutos.
Walquiria Neves, uma das integrantes do coletivo de
Deserto Feliz (São Francisco de Itabapoana – RJ)
Coletivo de mulheres produtoras dos Biscoitos
Raiz do Quilombo de Deserto Feliz