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03/11/23

QUIPEA

Resistência cultural e luta pela titulação dos territórios marcam 7º Evento Cultural do Quipea

Comunidades potentes e alegres, recepção calorosa e muita emoção manifesta em conversas, sabores, danças, penteados, cores, sorrisos e encontros. Essas imagens tomaram conta do clima do 7º Evento Cultural do Quipea, que aconteceu no fim de semana de 7 e 8 de outubro de 2023, no quilombo de Maria Joaquina, em Cabo Frio, RJ. O evento deste ano teve como tema “Potência quilombola: terra titulada, direito conquistado.”. Seu planejamento e organização passaram pelo Departamento Cultural, grupo formado por representantes da Comissão Articuladora e da equipe executora do Quipea que, juntos, construíram este lindo evento.

Dia 7 de outubro – terra titulada em destaque

No primeiro dia, uma mesa redonda contou com abertura por representantes das instituições ligadas ao projeto Quipea – Anderson Vicente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Suely Ortega, da Shell Brasil; Rejane Oliveira, educadora socioambiental do Quipea; a prefeita de Cabo Frio, Magdala Furtado; a Gerente de Igualdade Racial da Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico de Armação dos Búzios, Marta da Costa; e a presidente da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj), Beatriz Nunes. Todos ressaltaram a importância do evento para as comunidades quilombolas e deram boas-vindas aos presentes. A mestre de cerimônias dessa primeira noite de evento cultural foi Lucimara Muniz, educadora socioambiental do Quipea, e a mediação da mesa-redonda, após a abertura, foi feita por Alicia Oliveira, estudante de medicina e moradora do quilombo de Maria Joaquina.

A mesa-redonda trouxe para debate o tema da titulação para os territórios quilombolas. Entre os participantes estiveram presentes a coordenadora de projetos do Ministério da Igualdade Racial, Estela Aguiar; o procurador do Ministério Público Federal, Leandro Mitidieri; a representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Maria Rosalina dos Santos; o antropólogo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Renan Prestes; e o secretário adjunto de regularização fundiária da Prefeitura de Cabo Frio, José Luiz Alves, além das anfitriãs do evento, Rejane Oliveira, e Landina Maria de Oliveira, presidente da Associação dos Remanescentes do Quilombo Maria Joaquina.
Rejane, representante da comunidade quilombola de Maria Joaquina, ressaltou a importância da força das mulheres em sua comunidade para o enfrentamento de dificuldades, e apontou como o Quipea é um importante espaço de aprendizado e conhecimento dos direitos quilombolas, para o acesso às políticas públicas. Ela destacou a cartografia social como “instrumento de luta e visibilidade” para as 21 comunidades que participam do projeto.

Rejane Oliveira, educadora socioambiental do Quipea e anfitriã da comunidade de Maria Joaquina
Maria Rosalina, da CONAQ, trouxe em sua fala uma noção ampla e potente para o conceito de território quilombola, questionando o modelo de desenvolvimento agrário em solo brasileiro.

“A nossa territorialidade [quilombola] vai além do pedaço de terra. Pois o pedaço de terra também é um pedaço de mim, de minha vida. E negar o meu direito à terra é negar a minha existência. Então nós lutamos pela titulação coletiva, pois não se vive sozinho, um território cuida do outro.”



Maria Rosalina dos Santos, representante da CONAQ
 

Renan Prestes, do INCRA, trouxe a necessidade emergencial de uma divisão de regularização fundiária quilombola dentro do órgão, de forma a influenciar a gerência orçamentária dentro do conselho diretor nacional. “É necessário a criação de uma pasta unificada, organizada. Pois para outras pautas orçamentárias há mais organização, política, inclusive.” Leandro Mitidieri, do Ministério Público, acrescentou que os estados e municípios também têm a atribuição de titulação dos territórios, e que esta regularização por essas outras esferas deve ser cobrada pelas comunidades quilombolas.
O debate foi coroado com apresentação do grupo de dança Zambi, de Maria Joaquina, e de um jantar com deliciosos quitutes quilombolas feitos por essa comunidade.

Público da mesa-redonda do 7º Evento Cultural do Quipea, em Maria Joaquina (Cabo Frio, RJ)


Apresentação do grupo de dança Zambi, de Maria Joaquina (Cabo Frio, RJ)

 
8 de outubro – Dia de celebração da cultura e do empreendedorismo quilombola
 
O dia 8 de outubro foi marcado pelo encontro das 21 comunidades quilombolas do Quipea. Em um espaço montado para esta recepção – o campo gramado da comunidade de Maria Joaquina – dezenas de representantes de cada comunidade, vindos das mais diferentes regiões onde o Quipea atua, foram recebidos com sorrisos, abraços e um café da manhã típico e delicioso. Ao longo do dia, foram apresentadas 61 manifestações culturais dessas comunidades, sob a forma de música, dança, artesanato e gastronomia quilombola. Das comunidades de Rasa e Baía Formosa (Búzios, RJ) vieram a ciranda e o artesanato em cerâmica e bonecas negras. As cinco comunidades de Quissamã, RJ – Boa Vista, Mutum, Machadinha, Bacurau e Sítio Santa Luzia trouxeram a delícia dos doces artesanais, tecidos pintados e biojoias. De Aleluia, Batatal e Cambucá vieram quitutes tradicionais e artesanato em tecido e fibra de bananeira. Conceição do Imbé, comunidade quilombola de Campos dos Goytazes, RJ, encantou novamente com a apresentação da quadrilha Arraiá do Arrocha e de grupo vocal. Também teve muita animação na quadrilha Arraiá Quilombola, de Boa Esperança (Presidente Kennedy, ES), e na quadrilha Arraiá do Sapê, de Maria Joaquina. O jongo de Barrinha (São Francisco de Itabapoana, RJ), Machadinha e de Cacimbinha trouxeram o ritmo dos tambores e da dança ancestral para o deleite de todos os presentes. Assim como também encantou o Grupo de Maculelê Raízes Quilombolas, de Graúna (Itapemirim, ES). Deserto Feliz (São Francisco de Itabapoana, RJ) também impressionou com seus biscoitos amanteigados Raiz do Quilombo de Deserto Feliz. De Preto Forro, Botafogo e Maria Romana (Cabo Frio, RJ) veio muita dança e samba para animar o evento, que foi encerrado com o cortejo do Batuque Reciclado, de Sobara (Araruama, RJ).
 

Grupo Ciranda do Quilombo da Rasa (Armação dos Búzios, RJ)
 

Ciranda do Quilombo de Baía Formosa (Armação dos Búzios, RJ)
 

Grupo de jongo Mãe África Pátria Amada Brasil, de Cacimbinha (Presidente Kennedy, ES)
 

Doces do Quilombo Sítio Santa Luzia (Quissamã, RJ)
 
Além das manifestações culturais, o 7º Evento Cultural trouxe espaços cheios de novidades. No Espaço Empreendedorismo, houve exposição de produtos da agricultura familiar, da culinária e do artesanato quilombolas, demonstrando a diversidade dos meios de produção das famílias das comunidades. O Espaço Quipea apresentou a história das fases do projeto em um painel informativo ilustrado. Os fascículos da cartografia social foram acessados em sua versão impressa e virtual, por meio de tablets interativos.
 
Acesse em www.quipea.com.br/cartografiasocial os fascículos da Cartografia Social do Quipea

Outro ineditismo que marcou este evento cultural foi a homenagem às 21 mulheres empreendedoras, sendo escolhida uma de cada comunidade quilombola pelo seu protagonismo em empreender alguma atividade em sua comunidade, seja de produção agrícola, artesanato, culinária, comércio, promoção da beleza negra ou turismo comunitário. São agricultoras, empresárias, artesãs e cozinheiras, que participam do dia a dia das comunidades e buscam trazer mais incentivo para a conquista de outros espaços, levando o orgulho da identidade quilombola, feminina e ancestral. Cada homenageada recebeu um prato de cerâmica produzido pela comunidade quilombola da Rasa, e entregue pelas anfitriãs de Maria Joaquina e por representantes do Departamento Cultural.


Tereza dos Santos Pereira (ao centro), homenageada do Quilombo de Preto Forro (Cabo Frio, RJ)

O Espaço Shell contou com um ambiente virtual interativo, com os óculos de realidade virtual que traziam imagens comemorativas dos 110 anos de atuação da empresa no Brasil. Além disso, painéis mostraram outros projetos sociais voluntários, como o Mar Atento, Shell Startup Engine e Rede Mobiliza.

Mas a interação não parou por aí e, ao longo desse segundo dia do evento, pessoas de todas as idades tiveram a chance de participar de oficinas promovidas por mãos talentosas– tranças, maquiagem, turbantes, costura e bonecas abayomis trouxeram a riqueza ancestral de valorização da beleza negra quilombola.


Espaço Quipea no 7º Evento Cultural


Espaço Shell no 7º Evento Cultural


Oficina de maquiagem no 7º Evento Cultural

O 7° Evento Cultural Quilombola foi um rico momento de troca de experiências e demonstração da força coletiva e individual presente nas comunidades quilombolas participantes do Quipea. Seus desdobramentos para a luta pelo território e as impressões em cada um que esteve presente ainda serão sentidos por muito tempo... esperamos todas e todos no próximo!

Curiosidades:

  • O 7º Evento Cultural recebeu 1200 convidados
  • 800 kg de alimntos preparados
  • 370 kg de alimentos comprados diretamente das comunidades quilombolas de Preto Forro, Botafogo, Maria Joaquina e Maria Romana de Cabo Frio, RJ
  • 61 manifestações culturais
  • 3.300 kg de resíduos gerados
  • 2.300 kg de resíduos orgânicos enviados para compostagem
  • 113 kg de resíduos encaminhados para reciclagem


Maria de Cassia da Conceição, griô do quilombo de Baía Formosa (Armação dos Búzios, RJ)

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